Ontem eu estava caminhando proximo ao centro de Viena, e reslvi fazer uma pausa para um lanche rápido, um desses almocos de viajantes, quase como os topeiros que armazenavam carne sêca nas bolsas. Em frente a uma famosa padaria de viena, entrei e um rapaz com seus 16 anos me atendeu, e em um Alemao um tanto mal elaborado pedi um sanduiche com umas raspas de cenoura, como adoro cenoura, era o pedido perfeito para mim.
Peguei entao meu sanduiche e sentei lá fora, em umas mesinhas que ofereciam a vista do Metro e de um certo verde e de uma das vias do Danúbio.Eu percebi entao que aqueles lugares eram disputados pelas mais diversas pessoas, e eram os preferidos dos idosos, e dos loucos . Como uma mulher estranaha que veio falando algo em Alemao que eu persistia em tentar entender mas nao dava para entender nada , do que a voz dela brandava como um político querendo ganhar votos, ou um pastor em Domingo de igreja cheia igreja pentecostal.Era uma figura divertida que me dava um certo medo, mas ai lembrei que a maioria dos loucos aqui eram inofensivos, só brandavam. Essa é uma das minhas licoes da Europa, o continente é um continente cheio de gentes bem educadas, e de mutia gente infeliz , e doente como o resto do mundo.
Atrás de mim sentou um senhor com uma caixinha de leite, dessas de 500 ml que vendem por aqui, e veio rastejando outro senhor de 84 anos de idade , velhinho mas ainda me perguntou em alemao se poderia se sentar comigo na mesa, no lugar vago, e eu logo respondi um sim e um " bitte! " .
Quase no fim do meu lanche e entediado e querendo mesmo esquecer um pouco da minha vida, que esses dias estávam sendo pesadas demais para mim, perguntei se o senhor na minha frente falava ingles,e o que estava atras de mim, tomou a pergunta para ele, rindo enquanto o outro dizia que falava um pouco.
O senhor atrás de mim era falador, e carregava um olhar silencioso, assombrado mas maduro, tinha uns 65 anos mas parecia ter uns 100 , era alguem que ja tinha vivido o bastante para poder me contar que a vida era assim mesmo, há dias que a vida é leve como pluma e outros como o chumbo. Investi entao em um diálogo aprofundado. O senhor me contou que era de Chicago, e eu brinquei dizendo que eu tambem era americano mas americano do sul e ele do norte,ele disse que gostava do Brasil, e das mulheres, que eram lindas .
Sua familia , filhos e um neto, moravam em Viena, e ele estava ali para tratar de um cancer de cabeca. Ao ouvir isso minha vida perdeu a importancia e eu estava entrando no mundo daquele senhor, eu parecia pequeno, era um ser humano ajoelhado a uma estátua de Buda meditando.Eu fiz uns comentarios secos, do tipo _ " Essa vida é curta e fragil, todos morreremos" , logo tomei conta de que papel estava fazendo e tratei de ser mais carinhoso e otimista em meus comentários, nao queria deixá-lo mais triste, e o cancer sumiu de nosso horizonte, e ele nao iria lembrar da doenca enquanto estivesse comigo.
Nisso o outro senhor, já havia terminado o seu lanche que era um pao folheado,e um cafe com tres doses de acucar, ele parou e ficou ali como se esperasse amizade, ele estava procurando matar a solidao com café ou com gente, era uma versao minha mais velha e infeliz . Me contou entao que era Ruso, egesticulava com o ouvido e logo me disse que um ouvido era invalido, e o outro tinh apenas 10% da audicao. Eu logo lembrei da minha Avó, Dona Alrzira que tinha muito mais e era muito mais lúcida.
Ele era Russo e perguntei sobre a segunda guerra, onde ele estava nessa época, o outro riu quando eu perguntei a ele sobre a Guerra , e entao me disse que estava na Russia nessa época.
Em certo momento tinhamos uma conversa entre nos tres, eu como interprete de surdo, usando uma mistura de alemao, ingles e gestos .
Vltei entao para o meu amigo americano, que me falou sobre o amor na idade dele, que ele tinha uma esposa , filhos, que amava varias mulheres e que estava sossegado agora,nas palavras dele " Eu já fiz a minha parte ".
Eu pensei comigo mesmo, o que será que ele quis dizer com isso, e será que eu vou dar conta da minha parte ? Justo eu que odeio perder prazos de pagamentos, ou odeio nao devolver uma fita ou um dvd ( agora ) na data certa .
Me perguntou sobre o carnaval, e sobre o clima do Brasil, trocamos varias historias sobre o mundo, ele parecia resignado, e certo de algo, como se tivesse certeza de um caminho escohido,e nessa hora eu tive inveja, porque eu me sentia um turista do universo, perdido , longe de casa, e nem sabia onde era a minha casa.
Terminei o meu assunto e fui embora porque eu precisava sentir tudo aquilo aque eu havia sentido ali e eu precisava de um tempo só, fiquei triste quando percebi que eles estavam ali mendigando compania, e desejei que os dois se tornassem amigos, ainda que os velhos tenham inveja dos mais jovens, desejei que os dois continuassem a conversa e um convidasse o outro para conhecer a familia, tomar outro café e falar mais da vida.
Eu so tenho que agradecer porque naquela tarde a vida era leve.
Viena , 30 de Julho de 2009 13:24
Peguei entao meu sanduiche e sentei lá fora, em umas mesinhas que ofereciam a vista do Metro e de um certo verde e de uma das vias do Danúbio.Eu percebi entao que aqueles lugares eram disputados pelas mais diversas pessoas, e eram os preferidos dos idosos, e dos loucos . Como uma mulher estranaha que veio falando algo em Alemao que eu persistia em tentar entender mas nao dava para entender nada , do que a voz dela brandava como um político querendo ganhar votos, ou um pastor em Domingo de igreja cheia igreja pentecostal.Era uma figura divertida que me dava um certo medo, mas ai lembrei que a maioria dos loucos aqui eram inofensivos, só brandavam. Essa é uma das minhas licoes da Europa, o continente é um continente cheio de gentes bem educadas, e de mutia gente infeliz , e doente como o resto do mundo.
Atrás de mim sentou um senhor com uma caixinha de leite, dessas de 500 ml que vendem por aqui, e veio rastejando outro senhor de 84 anos de idade , velhinho mas ainda me perguntou em alemao se poderia se sentar comigo na mesa, no lugar vago, e eu logo respondi um sim e um " bitte! " .
Quase no fim do meu lanche e entediado e querendo mesmo esquecer um pouco da minha vida, que esses dias estávam sendo pesadas demais para mim, perguntei se o senhor na minha frente falava ingles,e o que estava atras de mim, tomou a pergunta para ele, rindo enquanto o outro dizia que falava um pouco.
O senhor atrás de mim era falador, e carregava um olhar silencioso, assombrado mas maduro, tinha uns 65 anos mas parecia ter uns 100 , era alguem que ja tinha vivido o bastante para poder me contar que a vida era assim mesmo, há dias que a vida é leve como pluma e outros como o chumbo. Investi entao em um diálogo aprofundado. O senhor me contou que era de Chicago, e eu brinquei dizendo que eu tambem era americano mas americano do sul e ele do norte,ele disse que gostava do Brasil, e das mulheres, que eram lindas .
Sua familia , filhos e um neto, moravam em Viena, e ele estava ali para tratar de um cancer de cabeca. Ao ouvir isso minha vida perdeu a importancia e eu estava entrando no mundo daquele senhor, eu parecia pequeno, era um ser humano ajoelhado a uma estátua de Buda meditando.Eu fiz uns comentarios secos, do tipo _ " Essa vida é curta e fragil, todos morreremos" , logo tomei conta de que papel estava fazendo e tratei de ser mais carinhoso e otimista em meus comentários, nao queria deixá-lo mais triste, e o cancer sumiu de nosso horizonte, e ele nao iria lembrar da doenca enquanto estivesse comigo.
Nisso o outro senhor, já havia terminado o seu lanche que era um pao folheado,e um cafe com tres doses de acucar, ele parou e ficou ali como se esperasse amizade, ele estava procurando matar a solidao com café ou com gente, era uma versao minha mais velha e infeliz . Me contou entao que era Ruso, egesticulava com o ouvido e logo me disse que um ouvido era invalido, e o outro tinh apenas 10% da audicao. Eu logo lembrei da minha Avó, Dona Alrzira que tinha muito mais e era muito mais lúcida.
Ele era Russo e perguntei sobre a segunda guerra, onde ele estava nessa época, o outro riu quando eu perguntei a ele sobre a Guerra , e entao me disse que estava na Russia nessa época.
Em certo momento tinhamos uma conversa entre nos tres, eu como interprete de surdo, usando uma mistura de alemao, ingles e gestos .
Vltei entao para o meu amigo americano, que me falou sobre o amor na idade dele, que ele tinha uma esposa , filhos, que amava varias mulheres e que estava sossegado agora,nas palavras dele " Eu já fiz a minha parte ".
Eu pensei comigo mesmo, o que será que ele quis dizer com isso, e será que eu vou dar conta da minha parte ? Justo eu que odeio perder prazos de pagamentos, ou odeio nao devolver uma fita ou um dvd ( agora ) na data certa .
Me perguntou sobre o carnaval, e sobre o clima do Brasil, trocamos varias historias sobre o mundo, ele parecia resignado, e certo de algo, como se tivesse certeza de um caminho escohido,e nessa hora eu tive inveja, porque eu me sentia um turista do universo, perdido , longe de casa, e nem sabia onde era a minha casa.
Terminei o meu assunto e fui embora porque eu precisava sentir tudo aquilo aque eu havia sentido ali e eu precisava de um tempo só, fiquei triste quando percebi que eles estavam ali mendigando compania, e desejei que os dois se tornassem amigos, ainda que os velhos tenham inveja dos mais jovens, desejei que os dois continuassem a conversa e um convidasse o outro para conhecer a familia, tomar outro café e falar mais da vida.
Eu so tenho que agradecer porque naquela tarde a vida era leve.
Viena , 30 de Julho de 2009 13:24
1 comment:
De fato, por isso existem os poetas! Pra ver a vida de um jeito que não estamos habituados, pra ver com amor e compaixão o outro, pra nos comover e emocionar com suas palavras e acima de tudo, para AMAR! Obrigado amigo, por suas palavras, elas sempre me fazem bem!
Saudades!
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